quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Cartas para Richard...



Volto Richard nas palavras à tanto tempo prometidas, volto ainda das viagens em que te acompanhei na distância, e nas melodias que o silêncio dos dias engoliu.
Mas volto acima de tudo, no brilho profundo dos teus olhos e nos fios de luz que os habitam, porque neles a vida faz-se ternura quando o sol escala os dias.

Porque estradas viajamos Richard?
Quantas lágrimas de solidão se têm afundado na lama dos caminhos?
Que é feito da promessa das palavras?
Quantas guardamos e acabamos por perder...

Pudesse eu desfragmentar o tempo, transpor o negro das paredes de xisto que nos separaram das estações, encurralar a alma no coração e fazer-te renascer na minha boca adormecida.
Pudesse eu roubar-te à vida que me roubas.
No labirinto do ser persistem marcas de pegadas por entre ruínas e espectros.

Queria arrepiar os pensamentos, sem drama ou dor, e restaurar as imagens. Respirar nos teus pulmões, adormecer no teu peito, e pedir à eternidade para se escrever nesse momento.

Volto sempre Richard no instante em que parto e sempre que a escuridão me resgata à luz de cada entardecer.
E ganho tudo, e perco tudo.
Fica-me apenas a poeira dos sonhos repetidos, a pairar dentro das memórias...

© Margusta Loureiro
in "Cartas para Richard..."
*reservados todos os direitos de autor de texto e imagem.
(livro a editar)

2 comentários:

Graça Pires disse...

Carta como forma de intimidade... Gosto do género.
Beijo.

Jaime Portela disse...

Um texto brilhante.
Acho que vou ler mais cartas para Richard.
Margusta, tenha uma boa semana.
Saudações poéticas.