quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O tempo nunca volta...

O arco do violino deslizava sobre as cordas num timbre agudo chorando ausências.
Ela escutava-o naquele solitário banco de jardim, sempre que o ocaso gravava a letras douradas o fim de mais um dia.
Tal como quando Joshua Bell tocou numa estação de metro em Washington durante 45 minutos,
sem que quase ninguém se apercebesse da sua presença, também ninguém se apercebia dessas melodias que apenas ela escutava vindas de um violino vermelho, que trazia fechado no coração.
Segurava entre os dedos os acordes de cada momento com uma infinitude tão profunda, que toda a estrutura do seu universo era abalada pelas emoções.
Com elas tecia as memorias de um tempo que temia não voltar mais. O tempo nunca volta.
Ah se ela pudesse suspender as palavras nunca ditas nos olhos, os pássaros beberiam deles como quem bebe da íris de um poema.
Existia um jardim seco à sua volta à espera de florir, para que as borboletas pudessem ganhar asas e o sonho pudesse acontecer...
Existia um banco de jardim vazio dentro dela, um banco feito de madeiras vermelhas, e existiam notas soltas de uma saudade louca, que lhe faziam vibrar partituras na veias, num choro baixinho que apenas ela escutava...

©Margusta Loureiro
*reservados todos os direitos de autor de texto e imagem.