Doce a tarde, desce em favos de mel . Aquieto-me embevecida aqui neste
recanto do jardim " Carpe Diem ", pudera eu segurar o tempo na palma das
mãos!...
A
paz desceu sobre a terra, e medita em cada coisa. Sente-se que tudo
está no seu lugar. Não existe diferença entre as pétalas das flores, e
os espinhos dos catos, que no canteiro em frente se entrelaçam. A mesma
beleza!...
Em momentos assim, talvez os sonhos até sejam objectos que possa tocar.
Escrevesse eu
pela manhã, bem cedo, e apenas saberia falar-te do vazio crescente, da
tristeza que se me embolava no peito, e, me tornava o corpo e a alma
frágeis,
ao ponto de me emocionar, com tudo, e por nada.
Parecia que um
regato soluçava dentro de mim, a caminho de um rio de margens magoadas
pelas ilusões, que ficavam presas no lodo.
E, não me saía da cabeça
a imagem daquela mulher, de olhos grandes, entre paredes, iluminada
por uma luz ténue. Uns olhos que falavam de tantas coisas misteriosas,
como o é, o mistério da própria vida, e a alma insondável do mundo.
Tinha visto a imagem numa revista enquanto tomava indolentemente o
pequeno almoço. Identifiquei-me com ela!...
Perturbou-me. Mas de
forma positiva. Se a vida não tivesse mistérios, tudo se tornaria
demasiado previsível, e, os dias seriam o rosto do próprio tédio.
E eu a única coisa que quero de previsível, em todos os dias da minha
vida, é a tua voz. Alimento do coração e da alma, que me desfragmenta a
monotonia da existência, que por vezes se instala.
Voz que chega como
uma onda, e me penetra em todos os poros, como se o meu corpo fosse a
areia seca da praia, absorvendo cada gota, até que o momento mágico se
repita, coroado de esperas ardentes.
Começa a levantar-se uma brisa fresca, nos prédios em frente noto que o
sol desce veloz, como se não houvesse tempo para preguiças . A
temperatura, começa agora a baixar de um modo brusco, só
assim me
apercebo com um arrepio na pele, que afinal é Outono. Os dias vão
encolhendo, para dar lugar à noite.
O céu límpido e azul cobrir-se-à
de estrelas em comunhão com a lua. Será a hora dos amantes e poetas,
ensejo alado dos sonhadores...
No silêncio, poderemos sentir a alma não só do mundo, mas de todo o
Universo, despido em constelações. E, os meus olhos vestir-se-ão de
mistério, como os daquela mulher.
Quando o sono me vencer, atravessarei a distância, e arderei no teu coração...
Maria Augusta Loureiro
(Margusta)
08/10/2011