domingo, 14 de junho de 2009

Nocturnos Sentires




Aqui onde me encontro, no ventre da noite me abandono e mergulho sem medos. Sei que e tua mão continua a segurar na minha, nesta cumplicidade secretamente cósmica que nos liga. Mas apesar dessa certeza, aos poucos vão se instalando íntimas as manchas da saudade… Gostava de te ter aqui!...
Gostava que respirasses comigo, o mágico perfume da terra, misturado com o hálito das folhas das árvores e dos frutos, do pomar aqui tão perto. O escuro é quente e as imagens estão todas desfocadas. Apaguei as luzes do exterior, no começo custou a habituar-me, mas agora já vislumbro os contornos das coisas, e apesar da distorção das imagens, já consigo ver mais além...o meu olhar criou asas...
E nesta nocturna escuridão, penso como são fortes os ombros da noite...pois carrega milhares de estrelas... nunca imaginei que fossem tantas! Nunca antes tinha visto um céu tão estrelado. E eu muito quieta, fico na cadeira em que me sento, e embarco sem ruído no seu encalço… Extase total!!!
Diz-me será que as estrelas são os sonhos da humanidade a pairar no universo, ou serão os desejos vertidos dos amantes do mundo inteiro a caminho do infinito...Diz-me...mas não me venhas com explicações lógicas ou cientificas...porque farta da lógica ando eu...fala-me antes de galerias de sonhos, de amores eternos...ou de paixões breves...

Ah se visses agora os meus olhos nocturnos...tenho a certeza que irias adorar!..

E no meio deste lugar , chega-me de repente a saudade do meu mar, que lá longe continua a castigar as rochas e a lamber a areia com a sua língua enorme e salgada num beijo constante e eterno... lembro-me dos teus beijos…tenho saudades… Pena é que junto a ele não consiga ver todas estas estrelas...devem ser as luzes das cidades ali..todas juntas..todas tão perto que as absorvem...

Mas hoje eu quero é mesmo concentrar-me aqui, neste lugar no campo longe de todo o materialismo..."substancia" que rege cada vez mais este mundo plastificado, e com a qual nunca aprendi a viver nem a conviver.

Como gostaria que estivesses aqui meu querido.... a menos de um metro acabou de passar agora mesmo, um pirilampo pulsante de luz , cruzando o escuro ... é a primeira vez que vejo um pirilampo... Acreditas?... E as minhas pupilas castanhas dilatam-se a cada pulsar luminoso. Ganham o mesmo brilho de quando os teus lábios pousam nos meus....aquele brilho que te fascina e te prende dentro das minha retina...tu sabes!

Olha a noite continua a crescer, e eu por aqui vou ficar, em busca de outros pirilampos que vão surgindo aos poucos...
Quero, ainda que furtivamente beber a luz de todos os silêncios, quebrada apenas pelo cantar dos grilos, ou de o latir de um cão muito ao longe...

Digo-te agora com toda a certeza, que tudo é possível, e que somos viajantes na eternidade…
Por fim te digo, que se á noite me dou, a ti me entrego num beijo interminável!...

Maria Augusta Loureiro
Margusta
In " Divagando"
Valhelhas 11/06/2009

*Reservados todos so direitos de autor.

5 comentários:

Leonor Varela disse...

Amizades verdadeiras são como árvores de raízes profundas
nehuma tempestade consegue arrancar.

Feliz dia amanhã
Beijos

vero disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
vero disse...

Olá Margusta,

gostei muito deste texto...

É um excerto de um livro seu? como poderei adquiri-lo?
Se tiver dificuldade em encontrar o meu livro "Não Morras Sem Mim" poderei enviar-lhe um exemplar pelo correio.


Beijinhos

Entre "linhas" disse...

As amizades verdadeiras são puras relíquias e cada vez mais raras minha amiga.
Mas desde que verdades são como as árvores mantém -se sempre de pé.
Bjs Zita

A.S. disse...

Querida Margusta, belissimo este teu texto!!!


Há um tempo ausente
nos olhos de um desejo
que se acende na luz dos pirilampos...
Há o tempo presente
dos sonhos que se repetem, que temos de abafar
no fragor dos versos disfarçados...


Ternos beijos!
AL