
Sabes, vou tentar regressar a mim. São incertos os meus passos, mas vou regressar a mim, procurando-me nas palavras. O caminho tem sido tormentoso na sucessão das noites aos dias, e dos dias ás noites. E dias tem em que eu já nem sei mais se é noite, ou se é dia, obcecada que ando nesta busca.
Diz-me que estrada é esta, em que uma estranha apatia me tolhe as ideias e movimentos e me atira para esta cruel angustia. Mas acredita estou determinada a prosseguir, ainda que lentamente , e por muito que tropece nos espaços em branco de um tempo perdido na memória. Tenho que me libertar desta inércia que chega a sufocar-me. Ar. Preciso respirar. Oxigénio, palavras. Palavras oxigenadas! Sim! Vou mastigar as palavras , vou saboreá-las, deixar que se dissolvam neste quente febril da minha boca, e retirar-lhes o suco. Vou tentar descobrir-me nos seus sabores...mas são tantos e tão diversificados os sabores!... Diz-me, sabes qual é o meu?...
Faltam letreiros, deveriam existir indicações nos sabores a indicar trajectos. Mas apenas existem palavras com letras de diferentes cores. Cores e sabores...O sabor do vermelho será em frente?...O do azul para a direita?...O verde será um desvio?... Fico perdida e confusa nos sabores das cores das palavras!...
Vem dá-me a tua mão... Ajudas-me?... Preciso!... Vou conseguir, tenho de conseguir! Foi demasiada a imobilidade branca a que me entreguei, e agora escrever afigura-se-me quase impossível. É urgente...é urgente que encontre o caminho. Tenho a alma nua de vocabulário. Dizem que os anjos andam nus. Serei eu um anjo?... Diz-me pois eu não sei!.. Não vejo mais os meus contornos. Mas as imagens muitas vezes também enganam, e sabes se for anjo serei de certeza imperfeito. Devo ter perdido as asas ao romper alguma noite negra e interminável, em que tu não estavas ao meu lado. Se me vês e sabes diz-me tu... Diz-me que vês em mim?...
Preciso da tua resposta, preciso que me ajudes....
Quero regressar a mim!... E voltar a viver contigo num lugar de sonho, num lugar doce e tranquilo, que é o inebriante e maravilhoso mundo onde habitam todas as palavras.
Maria Augusta Loureiro
Margusta
In "Divagando"
*Reservados todos os direitos de autor*
08/05/2009